Te vejo em dez anos

Em exatos dez anos, nos veremos de novo. Não marcaremos hora nem lugar, vai ser no susto. Você me olhará incrédulo. Meu coração batucará incessantemente quando você acenar para mim sorrindo. Nos olharemos por dez segundos sem dizer nada, depois daremos o abraço mais longos das nossas vidas.

Quando os nossos batimentos se acalmarem te contarei sobre a minha vida. Direi que larguei a bebedeira, que aderi ao Jazz e a taça de vinho nas sextas. Contarei que fiz um mochilão – me perdi nos lençóis  maranhenses, me encantei com charme das ruas de Paraty e passei horas chapada nas praias de Trindade.

Você vai me socar quando te disser – meio frustada –  que troquei a escrita por um curso que não me faz  feliz, mas paga as minhas contas – você sempre dizia que eu era boa, que escrevia com a alma.

Você vai notar que não uso mais aquele perfume adocicado que ficava impregnado no seu edredom azul quando eu ia embora. Vai ver que troquei o jeans básico pelo social.

Te contarei sobre meus novos projetos – neles, viajar o Brasil num fusca não está mais incluso. Eu mudei – a gente sempre muda.

Você vai me contar que passou um tempo fora, que o intercâmbio te fez amadurecer na marra, e que Londres é realmente encantadora.

Seus olhos vão transbordar orgulho quando começar a falar sobre seu cargo na multinacional que você trabalha – aquela que sempre admirou e se esforçou para passar nos processos seletivos.

Antes de ir embora, você me mostrará a foto da Ana – sua filha. Direi que o sorriso peralta dela é exatamente igual ao seu, mas não vou conseguir esconder a tristeza –  ela não tem os meus olhos. Lembra? Você sempre dizia que nossos filhos teriam que nascer com meus olhos – melancólicos e inocentes.

Vamos nos despedir com um ” foi bom te ver”. Vou entrar no carro com um nó na garganta. Você vai colocar aquela música do Donavon que te faz relaxar e esquecer de tudo. Seguiremos com a sensação de que poderia ter sido diferente, poderia ter sido a nossa vida.

Eu tive medo. Você não teve paciência.
Nos perdemos no tempo – ele passou. A gente também…

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