Tô indo. Quer que eu apegue a luz?

A tela do celular pisca indicando que acabo de receber uma nova mensagem: “o que eu fiz de errado?” Olha, você apareceu – depois de uma semana – o que fez de errado? Bom, você não percebeu que eu estava indo embora.

Quando você  ligou desmarcando o nosso jantar – uma hora antes do combinado – porque tinha esquecido que quinta é  dia de pelada com o Marcão, cogitei a possibilidade de arrumar as malas. A gente estava no comecinho, você nem iria sentir a falta da sua recém-inquilina-que-prefere-o-lado-esquerdo-da-cama.  Antes de separar minhas coisas das suas, pensei: – Ah, ele tinha uma rotina antes de mim, talvez o Marcão seja um amigo de infância que ele só vê uma vez no ano. Essa pelada deve ter um puta valor sentimental para ele. Desisti da ida. Você era um bom anfitrião – me dava beijos e cafés quentes de manhã.

Fiquei, fiquei porque era bom estar com você. Fiquei porque não queria me sabotar e te largar por causa da primeira mancada. Eu fiquei, e vi a vontade de ir embora crescer  quando te chamei para ir ao teatro e você disse que teatro dava sono. Sugeriu que, fossemos no bar do seu amigo. Fomos do bar. Abri a mala, quando te mostrei a música que mais gosto do Chico, esperando que você entendesse que não era só uma música, era tudo que queria te dizer sem falar, mas  você começou a reclamar do seu time que não acertava o ataque, que corria risco de cair para a série B e nem deu importância quando o senhor Buarque de Hollanda, disse: “O meu amor tem um jeito manso que é só seu, que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos com tantos segredos lindos e indecentes”. A voz que cantava não era minha, o sentimento era.

” O que eu fiz de errado?” – Você não entendeu as entrelinhas, não se ligou que o jeito que eu te cuidava, era um pedido camuflado: cuida de mim, cara! Cuida com carinho, escuta o que eu falo, me diz que há possibilidade de fazer tudo errado, mas que você tá cagando para os cinquenta porcento de pessimismo .

Eu não fui  embora porque acordei em um dia ruim, porque estava rebelde ou porque minha torrada caiu com a manteiga para baixo. Eu te disse que estava indo. Eu até batia a porta com força – era para fazer barulho mesmo – para vê se você se ligava que eu estava indo. Você não entendeu. Eu fui. E olha, eu já estou morando em outra casa

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